Spin-Off II - Karst
Passados dez dias, dando continuidade a série de Spin-Off! Fiquem agora com o ruivo do sorriso constante hehe~
Boa leitura
Karst - I
“Quando acordei, pensei em ir chamar a Aryn. Por mais que imaginasse como ela deveria estar exausta, tínhamos que começar a viagem. Passei a mão pelo rosto para me livrar dos resquícios do sono e fui até a cama ao lado. Entretanto, a Aryn não estava lá.
Tudo bem que nossos improvisados colchões de palha e folhas não eram muito confortáveis, mas ela não acharia lugar melhor naquela floresta para descansar.
Corri os olhos pelo quarto, sentido um crescente pânico. Ela também não estava dentro da cabana.
Lá fora, não estávamos mais cercados pela escuridão eminente da noite da Floresta, então definitivamente já havia amanhecido.
Equilibrei-me sobre um dos galhos mais robustos e varri os arredores com o olhar. Nada se movia. Nada produzia sons. Seria fácil de perceber aqueles cabelos prateados em meio a escuridão e o cinza da Floresta. Contudo, não havia nada.
—Ela se foi.
Virei-me para encontrar Daz no galho ao lado.
—O que?
—Fugiu no meio da noite.
—Você a viu? —Indaguei frustrado. —Por que não a parou?
Daz deu de ombros e virou as costas para mim.
—Ela vai aprender as consequências de sair correndo em Hellysh no meio da noite. E não vai tentar fugir de novo.
—Não diga besteiras! Ela não vai tentar fugir de novo porque não estará viva por tempo suficiente! Nosso lampião desapareceu... Não me diga que a Aryn saiu por aí levando um sinal de luz gigante? —Minha voz soava ligeiramente desesperada. Eu conhecia Daz há um bom tempo. Quase não ficava mais surpreso com suas atitudes. O que não significava que tinha que gostar de todas elas.
—Foi escolha dela.
—Brilhando no meio da noite e desarmada... —Balbuciei, abaixando a cabeça.
—Ela não estava desarmada. —Ergui os olhos novamente para Daz. —Eu a deixei com a minha adaga.
Se não tivesse perdido completamente as palavras, perguntaria se o garoto estava falando sério. Nunca imaginei Daz se separando de seu tesouro mais precioso.
—Do jeito que é desastrada deve ter deixado um rastro gigante por onde passou. Será fácil encontrá-la. —Dizendo isso, Daz saltou para a escada presa ao tronco e em segundos estava no chão. Engoli minha indignação e logo estava atrás dele.
Daz estava certo. Havia pegadas muito demarcadas pela terra e folhas. Muitos sinais de que coisas passaram por ali. E não havia sido só uma garota.
Eventualmente, um grito agudo ecoou vindo logo à frente.
—Pedra humana? —Repeti, me perguntando se o grito havia realmente dito aquilo.
—Pelo visto nem vamos ter que nos dar o trabalho de procurar mais.
—Só torcer para que ela ainda esteja viva quando chegarmos lá. —Salientei, lançando um olhar de reprovação para Daz, o que certamente não surtiu qualquer efeito.
Avançamos o restante do percurso o mais depressa que pudemos, nos aproximando do cheiro repugnante do pântano. Não precisei dizer nada a Daz. Ele também deve ter notado o significado. Estávamos nos encaminhando para o principal território dos reptilianos.
Minha surpresa pela ação de Daz começava a se esvair. O fato de ele ter se separado de sua adaga não passava de uma mera estratégia. Como um incentivo a mais para encontrar a Aryn. Por que estávamos correndo? Para salvar a Aryn? Era óbvio o objetivo de Daz. Era óbvio que ele não se importava. Estava concentrado simplesmente em sair de Hellysh. Mas e quanto a mim? Eu também não agia da mesma forma?
Não queria acreditar naquilo. Queria crer que havia algo mais. Que a Floresta ainda não tivesse tomado o que restava de mim mesmo. Meu fôlego se perdeu por um segundo. Ainda me resta algo pra ser tomado?
—Estamos chegando. —Anunciou Daz, me trazendo de volta. O cheiro de podridão havia se tornado ainda pior.
Não era hora de filosofar sobre a própria existência. Naquele momento, nem importava. Afinal, não é todo dia que é preciso salvar uma garota de um grupo de reptilianos.”